quarta-feira, 9 de outubro de 2013


DIÁRIO DO FREDERICO

Agora eu já tenho uma porção de palavras novas. Cinco.

Ontem, antes de dormir, achei mais duas palavras em meu dicionário: Estuário e Crápula. Estuário é uma palavra gostosa de falar. Quando a gente começa e fala “Estu” é como um chiclete de bola que arrebenta quando se fala “tuário”. É legal. O chato é que essa palavra não pode ser muito usada e se a gente não usa bastante as palavras novas que aprende, acaba esquecendo. Não posso dizer que minha escola é um estuário e nem meu cachorro também. Não tem nada haver.

A palavra “crápula” é também gostosa de falar e lembra o barulhinho de uma folha que se acabou de rasgar “crá” e depois “pula”. Meu pai não sabia o que era estuário e achou legal minha explicação, mal ele sabia o que era crápula e disse que conhecia uma porção de crápulas. Falo que todo crápula merecia ser furado com uma faca ou com um tiro.

Eu não gosto do Alexandre e se ele vier outra vez com a conversa de meu pai mexe com droga eu falo que ele é um crápula. Acho que vou acabar esquecendo o estuário porque quase não acho motivo para falar, mas crápula em vou falar muito.

Como meu pai.



terça-feira, 8 de outubro de 2013


DIÁRIO DO FREDERICO

19.07.2013.  São Paulo (SP)

Fiquei com tanta raiva que até desisti de procurar palavras novas hoje. Tudo por culpa do Alexandre que estuda na minha classe. Na hora do recreio ele falou para mim que o meu pai meche com drogas. Eu sei que é mentira porque isso, minha professora explicou, é coisa feia.

De noite, na minha casa eu falei isso para papai. Ele ficou bravo e disse que ia falar com a Diretora e que fechava a minha escola na hora. Explicou que é mentira porque quem meche com drogas é quem trabalha em drogaria que é a mesma coisa que farmácia. Só que é maior. Papai nunca teve farmácia nem drogaria e por isso acho o Alexandre um imbecil.


Então eu perguntei o que ele fazia. 

E ele me explicou que era chefe. Aí então eu fiquei mais sossegado e quando o Alexandre vier com essa bobagem eu já tenho a minha resposta.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013


DIÁRIO DO FREDERICO

16.07.2013.  Itamambuca. (SP)

Hoje eu aprendi mais uma palavra nova. Achei legal e por isso resolvi falar essa palavra muitas vezes, assim em não vou mais esquecer. Essa palavra é “cenário”. É uma palavra bonita e se parece com “canário”, mas, não tem nada haver. Agora já sei muitas palavras novas. Três.

Cenário legal é minha casa. É pobre e apertada e meu pai vive dizendo que vai ganhar mais dinheiro para fazer um puxadinho. Acho que não é preciso, porque assim eu, minha mãe, meu pai, o Zico e a Ceiça ficamos sempre juntos. Isso é uma família. Uma família que todos se gostam e que gostam de ficar juntos e de conversar sobre todas as coisas é uma coisa bonita. Minha casa apertada e minha família mais apertada ainda acho que é um cenário. Um lindo cenário.

Cenário não legal é minha escola. A Diretora dona Cândida é brava, mas é legal. Ela só é brava quando as coisas estão erradas. Fica brava quando a gente faz muita gritaria e outro dia até ficou bravo porque o professor Guilherme chegou atrasado. Mas, quando a gente faz coisa boa ela não é brava. A professora Fausta é a melhor pessoa que Deus colocou na Terra. Eu acho que ela é um pedacinho de céu. Mas, a escola é muito mal cuidada. Quando chove a gente tem que arrastar carteiras e a nossa lousa está tão quebrada que é difícil enxergar o que a dona Fausta escreve. Ela diz que o banheiro da escola é uma vergonha e que o prefeito não precisaria inaugurar o chafariz na praça e cuidar mais das escolas que estão caindo aos pedaços. Eu acho que ela esta certa. Nossa escola é um cenário imbecil.




DIÁRIO DO FREDERICO

16.07.2013.  Itamambuca. (SP)

Meu nome é Frederico. Eu tenho oito anos e meu pai fala que sou inteligente. Ele fala isso porque eu já sei escrever. Mas, na minha classe outros sabem escrever e não são mais inteligentes.

Ele pensa que sou inteligente porque gosto de palavras. Isso mesmo. Adoro descobrir palavras e por isso sempre leio o dicionário. Tem duas palavras novas que aprendi ontem e que uso sempre e por isso meu pai acha que sou inteligente. São duas palavras que achei no dicionário. Uma é “imbecil”, outra “fabulosa”. Acho essas duas palavras bem legais.

Na minha escola a professora Fausta gosta de elogiar a gente.

Marca o que está errado, mas sempre que acertamos adora dizer que está lindo e que somos lindos. Fala isso até para o Zequinha que eu não acho que é lindo. Quando escrevemos errado, ela não fica brava e diz que errar é o melhor caminho para acertar. Outro dia ela falou que a Luciana, que ainda não sabe escrever, vai aprender logo porque cada pessoa tem seu tempo. Eu acho a Fausta uma pessoa fabulosa.

Minha mãe não gosta de elogiar. Gosta mesmo é de dar bronca e dizer o que está errado. Tudo que a gente faz se ela gosta não fala nada, mas se fala é para dizer que não está legal. Diz que uma boa mãe é quem corrige tudo que a gente faz e que acertar é obrigação de quem quer ser importante na vida. Outro dia me colocou meia hora de castigo trancado no banheiro só porque não recolhi meu sapato que ficou na chuva. Eu não recolhi porque eu tinha me esquecido. Eu gosto da minha mãe, mas eu acho que ela é um pouquinho imbecil.