Dona Wânia não gosta de aparentar a idade que tem e por isso está de parabéns. Em sua luta tirânica contra as rugas e contra a gravidade, vive “antenada” em todas as novidades que aparecem. Fala-se em botox e lá está ela querendo saber o custo e os riscos, menciona-se fios de ouro e lá vai ela tornar-se perita no assunto. Os resultados podem não ser esplendorosos e Wânia em nenhuma circunstância passa por garotinha de vinte e poucos anos, mas seu rosto se não exibe a pele de pêssego que gostaria, esconde com dignidade os anos que acumulou.
Seu marido, o Stéfano, também não gosta de aparentar a idade que tem. “Não por vaidade”, segundo afirma, “mas para não aparentar diante dos alunos a falta de energia que tempos atrás sobrava”. Sua luta, entretanto, é diferente da de Wânia e se mantém-se distante de dermatologistas e cirurgiões plásticos, busca toda manhã “malhar” como conta-gotas na esteira e nas bicicletas ergométricas. Mesmo quando acorda cansado e com os músculos solicitando a doce trégua do repouso, cerra os dentes e faz sua caminhada, finge força e malha para valer. Wânia e Stéfano possuem objetivos análogos, mas buscam alternativas diferentes. A esposa acha que as tentativas do marido são maluquices e coisa de “velho doido”, o esposo por sua vez, que financia as plásticas, acha que o caminho buscado pela mulher “é apenas exterior” e reclama sua companhia nas atividades aeróbicas.
Assim como Wânia e como Stéfano existem muitos professores preocupados em se modernizar e não ministrar hoje, aula como o faziam a vinte anos atrás. Sabem que o tempo mudou, que o construtivismo chegou que as competências são faladas em toda parte e não desejam serem vistos pelos alunos e pelos pares como professores do passado, que pensam que ministram aulas para alunos que já não existem mais. Mas, tal como Wânia e como Stéfano, esses professores trilham caminhos diferentes.
Alguns enfeitam suas aulas com “plásticas”, modernizam sua conduta apenas por fora. Adotam um novo método aqui, substituem por outro ali, encantam-se hoje com Freinet amanhã com Piaget, exploram Gardner e discutem Perrenoud, mas no íntimo ainda acreditam que não pode existir aprendizagem sem “silêncio sepulcral” e que os saberes lhes pertence, entrando na cabeça dos alunos tal como “água mole em pedra dura”... Suas aulas e suas provas, ainda que enfeitadas com recursos da multimídia, exigem memorização disfarçada e somente acreditam que seus alunos efetivamente apreenderam quando puderem reproduzir suas lições da forma como as enviaram. Sua ação possuem cara de modernidade e suas estratégias, tal como o botox, esconde as rugas mas não oculta a verdade do envelhecimentos.
Outros professores já preferem ser como Stéfano. Não se incomodam com a aparência e nem mesmo se ofendem quando são citados como dinossauros. Sabem, entretanto, que por suas aulas se escoram em uma aprendizagem efetivamente construída e suas interrogações levam sempre seus alunos em busca de significações. Alternam formas de aula pois sabem que circunstâncias diferentes exigem ferramentas desiguais e suas provas, ainda que com aparência antiga, interrogam e conduzem os alunos a analisar, sintetizar, descobrir, criar enfim, efetivamente, pensar.
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