quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Livros Didáticos


Caminho em direção ao meu compromisso e o Thomas e suas queixas ainda ocupavam meus pensamentos. Agora já não mais era a tortura de seu desespero com a chegada das provas e toneladas de conceitos a decorar, mas a pesada mochila que carregava às costas. O que continha?

Provavelmente o mesmo que as mochilas de outros alunos de sua série e idade. Lápis, borracha, caneta, uma ou outra revista proibida, pois afinal ninguém é de ferro e é sempre necessário algo interessante para compartilhar com os amigos e livros. Uma porção de livros didáticos: de Língua Portuguesa, de História, de Biologia, de Geografia e ainda outros, não raramente, mais de um da mesma disciplina. Penso nessa mochila e me pergunto:

- Por que tantos livros didáticos?

Nada tenho contra livros, ao contrário. Sinto que nossos alunos lêem muito pouco e vejo com tristeza que cada vez lêem menos. Não posso compará-los com alunos de outros tempos que  jamais se imaginavam sem um livro na mão, um mistério a desvendar, uma aventura a compartilhar. O que me preocupa são os excessos de livros didáticos especializados, fragmentando o saber e criando no aluno a imagem distorcida de que uma disciplina escolar nada tem a ver com outra e que, por exemplo, livros de Biologia não servem para História, Geografia e Língua Portuguesa.

É uma loucura essa forma de se isolar saberes. Toma-se por exemplo um tema qualquer. Esse tema pode ser “água”, “terra”, “natureza”, “conflito”, “polêmica” ou um outro qualquer e se indaga, a que disciplina esse tema pertence?

Evidentemente que a resposta sempre será “todas”.

É, por exemplo, possível pensar Ciências, Geografia, História, Literatura ou qualquer saber sem “água”? Sem “terra”? Sem “conflito”? Claro que não. Todas as disciplinas escolares possuem olhar específico, mas olhar dirigido aos mesmos temas. Nesse caso, não seria melhor, substituir todos os livros usados pelos alunos em uma determinada série escolar, por um livro só que descrevendo insinuante aventura, pudesse ser explorado pela Geografia que contem, pela Língua que evoca, pela História que abriga e assim por diante/

Apanhe-se, por exemplo, um livro clássico. “Vinte Mil Léguas Submarinas” de Júlio Verne, “O Saci” de Monteiro Lobato ou ainda outro qualquer que por sua trama envolva o interesse da faixa etária para a qual foi escrito. Será que um professor de Língua Portuguesa não poderia explorar o romance para os conteúdos que mostra? Será que um bom professor de História, não poderia fazer da trama, ganchos para mostrar a realidade dos desafios humanos?

É evidente que circunscrever diferentes conteúdos curriculares em livro ou tema único exigiria cuidado e preparo por parte do professor, mas após o mesmo, os alunos não teriam apenas mochilas esvaziadas, os pais não teriam apenas menores gastos, mas sobretudo se inventaria um ensino verdadeiramente interdisciplinar, se mostraria a grandeza da Ciência e Cultura destacando olhares divergentes sobre temas comuns e se perceberia que professores não são ensinantes de coisas, mas especialistas na arte de ensinar a descobrir e a se surpreender.

Encantei-me com a idéia, mas depressa a descartei. Qual Sistema de Ensino ou Editora se atreveria a vender apenas um, quando pode forçar a compra de uma quantidade maior de livros. Trabalhar interdisciplinaridade com texto único não racionalidade pedagógica, é comércio intocável.

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