quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O avesso da inclusão


O tema "inclusão" está em moda.
Lamentavelmente é assim. A expressão da cultura educacional por estes lados do mundo exalta determinados modismos, assuntos da vez, temas emergentes e não raramente importantes, mas que por algum período são falados, escritos e discutidos por todos em toda parte, mas que não escapam de um certo ciclo vital que os relega para o esquecimento tempos depois, como moda passageira. Foi assim com o "construtivismo", logo depois com o "construtivismo interacionista", depois com "as inteligências múltiplas", apareceram os tempos das "competências" e agora parece ser chegada a hora da inclusão. O assunto aparece com destaque em toda reunião pedagógica, as poucas revistas pedagógicas abrem-lhes edição especial, congressos e seminários são repetitivamente organizados para apresentá-los. Algum tempo depois, o tema da moda é por outro substituído e seus fundamentos prosseguem apenas para alguns poucos, refletidos neste ou naquele lugar. Agora o tema da moda é a inclusão.
A inclusão, abrindo direito à educação para todo aluno seja qual for sua dificuldade ou deficiência, em seu sentido mais amplo parece ser idéia que não admite contestação. Todo ser humano, por mais severas que sejam suas limitações é educável e a escola verdadeira é toda aquela que a todos se abre e a todos oferece igual possibilidade de progresso, ainda que trabalhando de forma profissional e responsável as diferenças, sejam elas quais forem. Mas, nem por isso, a questão inclusiva escapa de uma análise crítica onde é possível aplaudir seu "lado direito", mas criticar com rigor seus excessos, protestar contra seus desvios. É esta a finalidade crítica deste artigo.
O lado direito da inclusão é aquele que fala de oportunidades para todos e que identifica a diversidade como forma de riqueza, jamais castigo. Esse mesmo lado enfatiza que todos somos essencialmente diferentes e que não são aceitas fórmulas para estabelecer a normalidade e a anormalidade. Anormal é crer que a diferença deve ser elemento de discriminação e assim a falsa escola elege quem acolhe como plausível e discrimina e afasta todos quantos se distanciam dos padrões de um critério grotesco, perverso e exclusivista.
O triste avesso da inclusão é a tolice de se crer que como não existe a anormalidade é essencial que todos se nivelem e, dessa forma, bons e ruins são semelhantes, esforçados e negligentes são iguais. De maneira sutil, mas persistente começa se instituir como verdadeiro valor da escola nos tempos de agora a crença absurda de que exaltar o bom implica em denegrir o fraco, aplaudir o esforço é extremamente perverso e segregacionista para quem é indolente.
Essa tolice afasta a educação brasileira das melhores do mundo e gera falsos argumentos para defender indolentes. Temos uma educação entre as piores do mundo? Paciência. É mais importante ser feliz que ser sábio, como se pudesse existir felicidade autêntica sem sabedoria; demonstramos redundante fracasso esportivo nas Olimpíadas de Pequim? Paciência. Deus não quis que nossos atletas alcançassem o pódio. Ao refletir sobre a arrogância da exclusão, resolvemos incluir a todos para que o êxito de alguns, não magoassem o esforço dos demais e com essa mentalidade olhamos nossos fracassos não mais como alerta para providências, mas como contingência de que acolhemos heróis e vagabundos com igual distinção. Fracassar, errar, tropeçar e abandonar-se ao lazer deixou de ser prova de fraqueza e medida de acomodação covarde para se transformar em valor digno de aplauso tão expressivo quanto se dedicar com afinco, buscar o sucesso sempre, planejar caminhos viáveis para conquistas sempre maiores.
O avesso da inclusão é se acreditar que fraqueza, insucesso e covardia são destino, não indiferença, preguiça ou omissão.

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