quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Ensino Médio: uma expeiência extaterrestre


Descobriu-se um planeta novo e pelo que informam os astrônomos, possui relativa semelhança com a Terra, sendo difícil, mas não impossível que possa abrigar alguma forma de vida. Ainda se levará muitos e muitos anos para que melhor se conheça peculiaridades do GL 581c, mas como o pensamento humano é ilimitado, imaginemos que efetivamente seja povoado, que sintam angústias e problemas similares aos nossos e que, em seu nome, nos interrogue como é o Ensino Médio praticado no Brasil.

É uma eficiente continuação do Ensino Fundamental e por assim ser busca aprimorar nos alunos saberes das ciências, das matemáticas e das humanidades, forjando valores de cidadania e identidade cultural; é, ao contrário, uma importante fase de preparo de competências concretas para o trabalho e pleno exercício de diversificadas profissões ou degrau para o Ensino Superior e garantia de sucesso nos vestibulares, sobretudo em faculdades de maior qualidade e não menor prestígio?

Como responder o desafio de tão intrigante questionamento espacial?

Não podemos, com segurança, afirmar que existem no país as três modalidades diferentes de Ensino Médio e que os alunos ao concluir a etapa de aprendizagem básica escolham o melhor. O mais exato é afirmar que esse nosso nível de ensino busca fundir as três tendências em um curso só e, assim, faz de conta que não existem objetivos conflitantes e prepare ao mesmo tempo cultural e civicamente o cidadão, ensine competências para o trabalho e adestre alunos para desafios dos vestibulares.

Por desejar fazer tudo com todos, com raras exceções o Ensino Médio que temos, não faz nada a aluno algum. É sabidamente impossível fundir tendências tão inconciliáveis e, por essa razão, ao não definir uma meta, emaranha-se em metas antagônicas não sendo nem igual ao modelo europeu, nem semelhante ao norte americano. Na Europa, um aluno que se inicie nessa etapa de estudos encontra ao seu dispor alternativas diversas, com percursos essencialmente acadêmicos, outros de iniciação profissional e ainda outros essencialmente profissionalizantes, que sequer permitem acesso às faculdades. Nos Estados Unidos, a opção é única para todos os alunos, mas o currículo é extremamente diversificado, com disciplinas que alternam artes a ciências específicas, algumas de formação profissional com o olho no mercado de trabalho e outras preparando para cursos superiores.

A esses dois modelos, inventamos um terceiro nem tanto ao mar e nem tanto a Terra que pretendendo integrar tudo em um só, não faz nada a ninguém, não leva aluno nenhum a opção alguma, entupindo o aluno com um elenco de disciplinas sobrenatural, soterrando-o com um volume de conteúdos impossível de ser assimilado, senão por breves momentos. Quando se busca uma justificativa para esse emaranhado de metas que é esse nosso nível de ensino, alguns enfatizam que é assim porque alunos de quinze anos ainda não sabem o que pretendem e que seria arriscado levá-los a opção da qual mais tarde, talvez, se arrependeriam. O argumento é pífio.

Se um aluno não possui maturidade para uma opção nessa idade, essa maturidade jamais ocorrerá e, mesmo que faça uma escolha que não seja compatível com idéias futuras não será impossível voltar atrás. Pois hoje não se vive saltando de opção a opção, buscando na idade adulta o que na adolescência não se pensou? Quantos advogados não estão fora do Direito, quantos futuros médicos em meio do caminho abandonaram a opção, quantos administradores não andam de lá para cá vendendo cosméticos?

Impossível imaginar quando mais saberemos sobre esse novo planeta que agora se descobriu. Se povoado por pessoas iguais a nós é interessante que tenham um Ensino Médio pior que o brasileiro. Adoramos copiar tudo que existe de ruim lá fora, principalmente em distancias siderais.

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