terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Ensinar o que? II


Nos saudosos anos cinqüenta do século passado, o grande programa de todos os estudantes da cidade de São Paulo era uma “viagem” até a Biblioteca Municipal. As bibliotecas escolares, quando existiam, amontoavam apenas livros didáticos e ainda assim muito desatualizados e, por isso, freqüentar a grande biblioteca era atividade imperdível, algo como o direito a um ingresso ao fantástico mundo do saber, aos segredos do desconhecido, que somente os livros poderiam revelar. Lia-se muito naqueles tempos, talvez porque isso nos valorizava, diferenciando-nos dos outros ou quem sabe até mesmo porque afora os livros, futebol e as meninas muito poucas outras atrações existiam. Quem viveu intensamente essa fase passou associar o livro ao saber e ao lazer e os que destes tempos fizeram-se professores, acreditavam ser conselhos nesse sentido os mais sábios e os mais justos conselhos.

O tempo mudou. Envelhecemos e a biblioteca também envelheceu. Conserva alguns de seus encantos e o ritual da sala de espera parece ainda nos remeter ao passado, mas em essência não há mais as razões de outros tempos para na mesma fazer-se viagens inesquecíveis. Hoje, qualquer banca de jornal de qualquer cidade do interior abriga mais informações que prateleiras inteiras de antigamente e, além dos livros, busca-se saber em inúmeras outras fontes da televisão a cabo até a Internet. O que, entretanto, não deve mudar jamais é a orientação de todo professor a qualquer aluno sobre como conquistar informações, como selecioná-las, como analisá-las através de um olhar crítico, como descobrir falácias e de que forma fazer dessas informações os caminhos dos novos tempos. Todo professor, não importa a série ou disciplina que ensina, deve ser um verdadeiro mestre em preparar estudantes para buscar e para selecionar informações. Não mais basta sugerir a biblioteca e nem mesmo apresentar-se uma prosaica relação de livros. O saber se conquista nas bancas, nas entrevistas, em programas de rádio e em atrações da televisão. Conquista-se nos livros, é claro, mas quem sabe procurar sabe que além das mesmas inúmeras outras fontes existem.

Mas, se saber acessar informações e com um olhar crítico fazer a leitura consciente de suas entrelinhas é importante, não é menos importante que também se ensine aos alunos às estratégias para melhor se reter as informações e, dessa forma, tê-las organizadas prontas para o disparo, no momento exato do tiro. Nos tempos da velha biblioteca jamais abríamos mão de nossas “fichas”. Em retângulos de papelão sintetizávamos os pontos cruciais de um tema, as idéias-chave de uma pesquisa, as linhas diretivas de um projeto e, até mesmo em outras fichas, organizava-se o pensamento e a reflexão do poeta, as emoções envolventes da ficção. A qualidade de um estudante avaliava-se entre outras coisas pela preciosidade de suas fichas e pela prestatividade de seus serviços. Alguns professores mais avançados para seu tempo até permitiam que nas provas fossem as mesmas consultadas, quando percebia que cada uma constituía criação artesanal da pesquisa do aluno.

Não há mais sentido em se falar em “fichas” em tempos de computador. Mas, se a forma perdeu sua atualidade, não perdeu valor seu sentido. Não importa se no computador ou no caderno, menos ainda se nos Cd-rom ou em disquete, parece ser extremamente importante que os alunos aprendam com seus mestres como organizar suas informações e de que forma sua utilização consciente pode ajudá-los em uma pesquisa, na organização de um projeto. Se os limites da memória humana, como bem o sabemos, são restritos que possamos aprender com inteligência fazer uso cada vez maior e com maior proveito das memórias eletrônicas.

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