quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O big bang da criatividade


O valor da criatividade é incontestável.

A agitação no mundo em que vivemos, o celular que nos acompanha, a televisão que transporta todos por todos os lugares e a medicina que garante sobrevivência, a quem anos atrás pela mesma não poderia esperar, não estaria a nosso alcance sem mentes criativas que ousaram olhar para onde ninguém jamais olhara. Se aceitarmos uma breve fuga da rotina e sonharmos com mundo sem a criatividade, regressaríamos no tempo e nossa espécie pouco representaria no universo de muitas outras espécies biológicas. A criatividade é tudo, sem ela quase nem existe o resto.

Mas, a criatividade não brota no cérebro humano em todas as idades.

Existe hoje a certeza científica de que para um certo grupo etário a criatividade flui sem nenhuma pressão, aparece e se expande quase sem custo algum. Essa idade admirável é a que envolve as crianças na educação infantil. Dispondo de um ambiente que, mesmo modesto, possa instigar desafios e dispondo de mediadores interessados, as crianças nessa idade são curiosas, intrigadas por tudo quanto ouvem ou vêem prontas para experiências de qualquer tipo e mesmo com simplória estimulação criam e recriam sem qualquer promessa de recompensas materiais. O “Big-Bang”, a explosão da criatividade, tal como luz divina, aparece na vida uma única vez e não se reproduz jamais.

Não se pretende com essa colocação afirmar que não existiram ou não existem gênios criativos na idade da educação formal ou até mesmo depois. É evidente que a descoberta científica imprescindível e a invenção tecnológica que movimenta o mundo foram e são produzidas por adultos, mas toda força criativa que em todas as idades se exibe, apareceu em um breve momento e seu portador contou com o privilégio de ter essa semente acolhida e cuidada e por essa razão em outras idades continuou a mesma florescer. Não é sem razão que o genial Picasso afirmou “Não foi difícil desenhar como Rafael, mas levei quase uma vida inteira para aprender a desenhar como uma criança” e nem é mesmo surpreendente que o não menos genial Freud tenha observado “Quando eu era jovem, as idéias vinham a mim; à medida que envelheço, tenho que procurá-las”.

Diante da certeza desses fatos, o papel de pais e de professores ao se depararem com crianças é o de manter vivas suas mentes, de estimulá-las com persistência, de não deixar passar o tempo e, com tristeza, lamentar não ter dado a atenção que toda mente criativa, nessa fase, necessita tanto. Mas, qual é essa atenção? Como ajudar para que essa explosão de criatividade não se amarre e que as sementes desse breve instante possam iluminar a mente pela vida afora?

Poucas são as crianças que não adoram um circo, um passeio diferente, uma sala antiga que se transformou em uma espécie de museu, uma feira de atrações que se pode explorar livremente. Quando dispõem de um adulto que lhe excite a curiosidade com perguntas desafiadoras e propostas originais, adoram descobrir um jardim, correr pela grama, abraçar árvores e ouvir histórias em que são transformadas de ouvintes em protagonistas. As portas da criatividade são abertas para sempre quando pais e professores assumem a coragem de desligar a rotina da televisão ou a monotonia do ensino formal e desafiar a criança para caminhar observando, aprender a escutar e contar com a orientação de olhos que as ajudem a ver de maneira diferente, de ouvidos que descubram a múltipla diversidade dos sons. Nada ajuda mais essa admirável explosão que um envolvente convite para se assistir um nascer ou um por do Sol, a imensa aventura de se compartilhar o assar de um pão, a ousadia de plantar uma árvore em um aniversário significativo, de se fazer uma pesquisa no Zoológico ou Jardim Botânico, de descobrir o segredo de se dançar uma música antiga de maneira bem lenta, até mesmo de se agradar, com suave carícia, um gato ou cachorrinho ou da imaginável aventura de descobrir encantos em todo lábio que sorri.

Todo adulto que interroga, desafia, sugere, propõe, anima, incita e provoca a curiosidade é sempre um jardineiro de idéias, um escultor de mentes criativas. São boas almas que libertam pensamentos criativos, que pela vida afora não se perdem mais.

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