quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Mamãe, o que é uma prostituta?


Existe na dimensão da pergunta de uma criança uma porção de ponderações úteis e uma pitada de educação. Em primeiro lugar, cabe ressaltar que é absolutamente essencial que as crianças perguntem muito, perguntem sempre. A curiosidade é o combustível essencial da inteligência e crianças que jamais ou raramente perguntam apresentam deficiências que exigem superação. Mais ainda, não pode existir para uma criança perguntas válidas e perguntas proibidas, perguntas aceitáveis ou perguntas que não se deve responder. Toda pergunta de uma criança é sempre uma ação legítima e o papel de pais e educadores é em todas as circunstâncias e oportunidades possíveis instigar a criança a perguntar, provocando sua curiosidade, iluminando sua argúcia.

Uma outra ponderação que a questão instiga é sobre a resposta. Como responder perguntas imprevisíveis? Como explicar questões que envolvem sexo, procedimentos incomuns, drogas e traficantes? Jamais acreditar que a criança “ainda não tem idade para saber a resposta” e assim atirá-la à frente. Quem tem idade para perguntar, está na idade certa para acolher uma boa resposta.

Por outro lado é também impossível imaginar catálogo que abrigue todas as dúvidas que povoam a mente infantil e, assim, o melhor procedimento para a resposta deve sempre levar em conta alguns fundamentos:

·         A resposta necessita ser verdadeira.

·         A resposta deve aferir a idade da criança, o contexto cultural em que vive e sua efetiva capacidade de atribuir significados ao que ouve. Uma resposta formal não compreendida plenamente não é resposta e, assim, é essencial que quem educa conheça o universo vocabular e a estrutura de pensamento de quem interroga.

·         É inteiramente válida uma resposta do tipo: “Não sei! Vamos buscar essa resposta? Será que um dicionário pode nos ajudar? Que tal telefonarmos agora para a vovó que sempre sabe responde? Vamos fazer juntos, essa pesquisa?”.

·         A resposta jamais pode enveredar-se pela exclusão e traduzir opiniões preconceituosas. O “bom” e o “mau”, o “certo” e o “errado”, o “bonito” e o “feio” são elementos extremamente subjetivos e se é legítimo que um adulto possa julgar e opinar representa imperdoável covardia e erro educacional grave passar para a criança com a resposta os preconceitos excludentes que como vício se carrega.

·         A resposta jamais pode enveredar para generalizações, do tipo “Toda prostituta...” “Todo alemão...”. “Todo judeu”, etc. É essencial para a formação de um ser humano, desde pequeno, perceber a beleza da individualidade e a tolice perversa que generalizações impróprias sempre traduzem.

Esses fundamentos, entretanto, podem dar estruturas as eventuais respostas que se dará, mas não atende a necessidade imediata do desafio proposto pelo título. Não há como responder o que é uma prostituta sem se saber o universo vocabular e cultural da criança que interroga, mas é possível uma resposta verdadeira, não preconceituosa e nem generalista e assim esclarecedora. Caminho melhor para esses desafios foi o que desenvolveu a excelente diretora de Escola Municipal que conheci.

Em uma reunião com os docentes e depois em uma outra com pais, fez cuidadoso levantamento de todas perguntas infantis possíveis. Com esse vasto material, não se impôs como quem sabia as respostas, mas aproveitou a reunião pra com bom senso e consenso debatê-la e assim instituí-las. Quando essas reuniões terminaram, nenhum pai ou professor saiu com respostas “na ponta da língua”, mas saiu seguro de que haviam aprendido buscar em si mesmo como respondê-las.

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