terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Olhar Empático do Mestre


  Imagine uma obra de Picasso vista por uma pessoa comum, sem instrução e sem nada saber sobre quem foi seu autor. Pense sobre como essa pessoa descreveria a obra e imagine qual resposta daria caso lhe perguntasse quanto por ela, se pudesse, acharia justo pagar? Imagine agora, a mesma obra vista por um colecionador, por pessoa versada em arte e que soubesse apreciar obras geniais. Não é difícil descobrir que esta última veria na obra o que o primeiro jamais seria capaz de enxergar e que aos seus olhos educados, um Picasso autêntico constitui peça invulgar. O que separa esses dois olhares?

  Educação! Diria você. O primeiro observador não possui olhar "educado" e, dessa forma, apreciaria com a singeleza dos simples e, mesmo que fosse informado sobre o valor da obra, não compreenderia porque traços que lhe parecem tão grotescos podem ser assim valorizados. O segundo, ao contrário, preparado para identificar beleza, identifica nos traços do gênio o imenso poder de síntese e de criação do artista. Sem, dúvida, o fator relevante a separar os dois olhares é a educação, mas não só a educação.

 Nem todas as pessoas cultas apreciam obras de arte. Essa possibilidade existe para alguns porquês acrescentam à educação, a empatia do olhar, o gosto pelo maravilhoso, a paixão que seduz e embriaga. Educação sem empatia ajuda um pouco, mas a verdadeira empatia imprime roteiros ao olhar, desperta a emoção que se agrega ao que se vê. E, empatia sem educação, por acaso existe?

  Claro que existe. Veja essa empatia no artesão que não fez escola, mas que destacou-se de outros de seu entorno para, no entalhe que executa, chegar a sensibilidade que encanta. Repare nos pintores primitivos que sem freqüentarem academias de arte, souberem olhar de forma especial e diferente a natureza e as pessoas com a acuidade e sensibilidade incomum que esculpiram, compuseram ou pintaram obras de incontestável valor artístico, sem nunca terem ouvido nada sobre a nobreza da arte. O olhar carregado de ternura e de empatia e sensibilidade aprimora-se com a educação, mas seguramente a precede.

E o que essas considerações tem a ver com a sala de aula?

  Muita coisa, principalmente para professores da Educação Infantil. Qual a amplitude do olhar desse professor? Com que nível de empatia e encanto acolhe a linguagem infantil, destacando-a, elogiando-a e fazendo com que a criança descubra-se "importante" pelo trabalho que faz? Ainda uma vez, vale insistir sobre a imensa diferença que existe entre o elogio falso, entre a hipocrisia de se dar ênfase com a indiferença de quem segue uma rotina e o olhar verdadeiramente empático de quem sabe se encantar, ainda que esse encanto não dispense a correção. Professores inesquecíveis são todos aqueles que parecem possuir uma invisível "lente de aumento" descobrindo na produção de seus alunos a qualidade oculta, o detalhe relevante que destaca o elogio sincero.

  Para uma criança, mas não só para crianças, todo elogio autêntico funciona como alimento essencial a auto-estima, como prova de que sendo capaz de despertar admiração de um adulto é "pessoa importante" e como tal ganha a garantia serena da proteção que, inconscientemente, reclama. Um olhar empático e atento, carregado de sincera admiração, pode não ser a única competência importante para um mestre, mas é sem dúvida uma competência imprescindível.

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