quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Como trabalhar o consumismo


Henrique adora a visita da avó. Espera pela mesma com ansiedade e esta se torna crescente nos momentos que antecede a sua chegada. Esta, quando chega distribui afagos e abraços, beijos e balas e, de imediato, carrega Henrique para o Shopping onde externa seu amor comprando-lhe todos os sorvetes que anseia todos os brinquedos que reclama, todas as novidades que implora. Henrique adora a avó ou adora o consumismo que sua avó propõe. Se a avó de Henrique desaparecer, lamentará a perda de uma amiga querida, ou reclamará a falta da liberdade irrefreável de, através a avó, fazer-se consumidora?

Não se pense que está crítica seja destinada a Avó ou aos pais de Henrique por não refrear sua ação puramente consumista, escondida na impressão de afeto. Menos ainda seria legítimo pensar que os fatos revelados pretendam crítica a criança. A grande verdade é que adultos e crianças nos tempos de agora estão perdendo a autoridade do “não” e a rapidez com que essa perda se manifesta encontra apoio nas campanhas de marketing, que a cada segundo incutem valores materiais nos programas que inventam, nos atraentes comerciais que criam, nas insidiosas mensagens que induzem os pequenos a se compararem e a reclamarem não querer sentir-se diferente dos demais.

O duelo de forças é desigual: de um lado uma família e uma escola e seus conhecidos limites, do outro, empresas de sólidos investimentos em prospecção que buscam os melhores especialistas em marketing e propaganda, psicólogos treinados para, sem limite de verbas, inventariarem o que a criança deseja, quais são suas fraquezas e como fazê-la desejar o que ainda não tem. Existe alguma chance de se vencer essa guerra?

Existe. Mas, seguramente não é fácil.

A primeira arma dos pais e dos professores nesse embate é indiscutivelmente o tempo. Quando não se tem tempo e quando se busca a TV como parceira para entreter a criança, libertando-nos de uma dolorosa perseguição, é evidente que a guerra está perdida e a única alternativa que sobra é rezar para que a Avó generosa não falte ou, mais ainda, que não falte a ela ilimitados recursos para prover os netos do que querem hoje, para desprezar amanhã. Se, ao contrário, se abre espaço de um tempo, a criança necessita ser escutada – porque escutar é bem mais que se ouvir – e tornam-se importantes conversas diárias, não repreendendo o consumismo, mas mostrando que existe encanto em coisas simples, passeios singelos, desafios interessantes que vão das bolinhas de gude, à travas-língua, das histórias extraídas de livros e narradas com inefável e cotidiana ternura. Esse mesmo tempo, pode ser lenitivo para que a criança aprenda a descobrir que existem coisas admiravelmente valiosas que não podem ser compradas: Quando vale uma árvore que se planta? Uma flor que se colhe no passeio que se faz?

A segunda arma é a aprendizagem. Os pais não nascem sabendo brincar de forma significativa com seus filhos, nem externassem com bulas onde se prescreve a forma de sentirem-se estimulados. Mas, se é verdade que pais e professores precisam aprender, não é menos verdade que existem livros excelentes, programas admiráveis, projetos fantásticos para se envolver a criança em estimulações lúdicas em que, pouco a pouco, aprendem a conversar, ceder, concordar, argumentar e não gastar. Da mesma forma como não se conquista o corpo malhado com o qual se sonha, sem um programa de atividade marcado por regras de periodicidade e empenho, também não se combate a violência consumista das crianças sem um envolvimento em projetos onde os pais reservam um tempo para aprender a vencer esse inimigo e, depois, um tempo ainda mais gostoso para brincar com seus filhos, brincadeiras que estimulam suas inteligências, amadurecem seus afetos e se não os libertam do anseio consumista, ao menos permitem que se os mesmos possam se adequar à dimensão das despesas possíveis dos país.

Um detalhe final. Não se preocupe em arrumar tempo e participar de projetos de estímulos se você mesmo é, segundo os marqueteiros, um adorável consumista.

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